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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Literatura Infantil

O Jabuti e a Raposa



Conta-se que o jabuti tinha uma frauta. Um dia quando ele estava tocando sua frauta, a raposa foi escutar e lhe disse: "Empresta-me esta frauta". "Eu, não! respondeu o jabuti; para tu fugires com minha frauta"... A raposa disse: "Então toca para eu ouvir a tua frauta". O jabuti tocou assim:
Fin, fin, fin!
Culo fon, fin!

A raposa disse: "Como és tão formoso com a tua frauta, jabuti. Empresta-me um bocadinho". O jabuti respondeu: "Pega lá! Agora não me vá fugir com a minha frauta; se fugires, atiro-te esta cera em cima". A raposa tomou a frauta do jabuti, tocou e se pôs a dançar e achou muito bonito; depois largou-se na carreira com a frauta. O jabuti quis correr atrás; mas não pôde e voltou para o mesmo lugar onde estava, e disse: "Deixa-te estar, raposa! Não te dou muito tempo que eu não te apanhe".
O jabuti foi pelo mato afora, chegou perto do rio, cortou madeira para fazer uma ponte para passar; chegou à outra banda, trepou, cortou da árvore do mel, tirou mel do pau, voltou para trás, chegou no caminho da raposa, encostou a cabeça no chão, pegou no pau de mel e untou com ele o traseiro. Daí a pouco a raposa chegou ali e olhou para aquela água, que parecia tão lustrosa e tão bonita. A raposa disse:
"Ih!... que será isto?"
Meteu o dedo, lambeu, e disse:
"Ih!... i... i...! Isto é mel."
Outra raposa observou:
"Qual mel? nada, aquilo é o traseiro do jabuti."
A outra respondeu:
"Que! o traseiro do jabuti! Como é que isso é mel..."
Com a muita sede com que estava, meteu a língua nele. O jabuti apertou o traseiro, a raposa gritou:
"Deixa a minha língua, jabuti!"
A outra disse: __ "É o que eu te disse. É o traseiro do jabuti; tu disseste: Como é que isto é mel, então?"
O jabuti disse então: "Han! han! foi o que disse a você, ou não? Cedo te apanhei. Dizem que tu, raposa, és muito esperta! Que é da minha frauta?"
A raposa respondeu: "Não está aqui, não, jabuti!" O jabuti disse: "Tu bem que a tens aí, dá-me já, senão te aperto mais". A raposa não teve remédio senão restituir a frauta.


Fábula que os índios contam, colhida no Pará por Couto de Magalhães. ROMERO, Sílvio. Contos populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 1985. p. 147-8.